1) Lindíssima biografia ilustrada sobre Frida Kahlo, que se tornou um verdadeiro ícone da cultura popular mundial e é hoje a artista plástica latino-americana mais conhecida e valorizada internacionalmente. Sua vida é interessantíssima, tendo sido objeto de adaptações cinematográficas, peças teatrais e exposições. Hoje seu rosto, seus autorretratos e suas fotos extrapolaram o mundo das artes plásticas para estampar camisetas, mochilas, almofadas, fantasias de carnaval etc. 2) A autora, a espanhola María Hesse, considerada uma das ilustradoras mais importantes da Espanha atualmente (vale a pena conferir seu Instagram, onde costuma publicar seus desenhos de mulheres fortes), conseguiu realizar uma obra como poucas: conta a trajetória da vida e da obra da artista em primeira pessoa, lançando mão também de trechos de diários, cartas e depoimentos de Frida. O texto, aliado às lindíssimas ilustrações da autora e à caligrafia que é usada para os trechos originalmente de Frida, dão o tom perfeito a este livro. 3) Publicado originalmente pela Penguin Random House España em 2017, está tendo carreira exitosa também internacionalmente. Já teve os direitos vendidos para 12 países. 4) Não se trata de uma biografia convencional; María Hesse escolheu os principais momentos da vida e da obra de Frida para retratar. Isso e o formato ilustrado (quase uma graphic novel) fazem deste o livro perfeito para o grande público, uma vez que não é preciso ser iniciado em Frida Kahlo para amar o livro. Aborda acontecimentos cruciais, mas às vezes menos conhecidos da sua vida, como o fato de que nascera com a deficiência física congênita da espinha bífida, os vários abortos que sofreu, sua frustração por não conseguir ter filhos, o caso que teve com Leon Trotski, os dias que passou presa suspeita pela morte deste, a amputação de uma de suas pernas e o episódio em que, já que os médicos haviam-na proibido de sair da cama para ir à inauguração de sua primeira mostra individual no México, ela compareceu com cama e tudo. 5) As ilustrações de María Hesse são belíssimas, verdadeiras obras de arte. Ela não apenas ilustrou a vida da artista como também refez algumas das pinturas mais famosas de Frida, ao seu estilo. Também por esse recurso visual, a vida e a gênese da obra da pintora são narrados de forma orgânica e harmoniosa, sem qualquer sombra de academicismo. As cores vivas exploradas nos vestidos da artista, a originalidade do traço que dá vida a essa figura com o cabelo trançado, preso e adornado por flores coloridas e a habilidade narrativa que faz a leitura fluir como um filme tornam este o livro perfeito para contar a história de Frida. 6) Por sua obra mas principalmente por sua biografia - a superação dos problemas de saúde, o relacionamento não-convencional com seu grande amor, Diego Rivera, a escolha da pintura como meio de expressão e de realização diante das limitações da existência, sua bissexualidade e sua atitude vanguardista quanto aos costumes sociais - Frida Kahlo é hoje um ícone entre as jovens e os movimentos feministas. É homenageada pelo nome do coletivo feminista Não Me Kahlo, figura como uma das mulheres rebeldes e revolucionárias do best-seller infanto juvenil Histórias de ninar para garotas rebeldes e é geralmente identificada como uma mulher que encontrou a própria voz e a própria identidade. 7) María Hesse se identificou muito com Frida Kahlo; como artista plástica, claro, mas, conforme declarou em entrevista, por algumas das limitações físicas: María é disléxica e convive com as limitações da doença desde pequena - o que mostra a diversidade de leituras e identificações que a vida de Frida propicia.